Fim imediato do corte de juros entra no radar do mercado após ata do Copom
Por Daniel Tozzi Mendes, Maria Regina Silva e Gabriela Jucá
A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, trouxe de forma clara a preocupação com a trajetória da inflação no Brasil. E, para analistas, deixou a porta aberta para um movimento que não estava no radar de ninguém até agora: o fim imediato do ciclo de cortes na Selic.
“A ata do Copom veio bastante dura e, a nosso ver, abriu a porta para o fim do ciclo de flexibilização”, diz, em relatório, o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita. Por ora, no entanto, o banco ainda vê o Copom reduzindo o juro básico em 0,25 ponto na próxima reunião, em junho, com a Selic indo a 10,25%, “seguido por uma pausa prolongada”.
O Banco Inter também trabalha, neste momento, com mais uma queda de 0,25 ponto na reunião de junho. Mas a economista-chefe da instituição, Rafaela Vitória, não descarta que, a depender da conjuntura, o BC opte por parar de cortar o juro já no próximo encontro.
Na avaliação da economista, a ata deixou claro que os próximos passos do comitê estão em aberto e que ainda não há consenso entre os membros do colegiado sobre qual será o nível da taxa Selic ao final do atual ciclo de cortes. “O tamanho da restrição monetária suficiente para a reancoragem de expectativas ainda é a principal dúvida”, avalia.
Alguns analistas, porém, já trabalham com uma taxa final da Selic de 10,5% ao ano - que é o patamar atual. É o caso do economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. Ele avalia que a perspectiva de um novo corte de juros vai contra o rigor da ata divulgada ontem. O cenário base da corretora incorporou a reunião de maio como o fim do ciclo de afrouxamento monetário, com a Selic permancendo em 10,5% este ano.
Ele pondera, no entanto, que a taxa de juros pode sofrer algum ajuste marginal. “Falamos de um final de ciclo que deve passar por um ajuste fino, mas frente à rigidez que foi colocada para a inflação na ata, nos parece que o BC deve interromper esse ciclo de baixa”, afirma.
Sanchez avalia ainda que não está descartada a possibilidade de um novo dissenso no próximo encontro do Copom - na última reunião, cinco diretores votaram por um corte de 0,25 ponto, enquanto outros quatro defenderam uma redução de 0,5 ponto porcentual. “Isso pode continuar, com parte votando pela interrupção do ciclo e outros por novos ajustes marginais”, salienta.
Ele destaca o cenário de um ambiente internacional mais pressionado, inflação de serviços resiliente e represamento de preços administrados como fatores para as expectativas de alta para a inflação de 2025. Ele projeta alta de 4,2% para o IPCA em 2025.
Fonte: Agência Estado
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil