É o que explica o administrador de empresas, professor de MBA do Ibmec e especialista em finanças pessoais, João Victorino. “Por exemplo, o preço de produtos importados, como o trigo argentino (essencial para a produção de pães e massas, origem de 83% das importações do produto pelo Brasil), os insumos industriais do leste asiático e até mesmo petróleo e seus derivados, influenciam direta - e indiretamente - no nosso custo de vida por aqui”.
Segundo o especialista na área, entender como e porque o dólar interfere na nossa inflação é importante para monitorar e mitigar eventuais efeitos adversos na economia do país (e também nas nossas finanças pessoais). “O primeiro passo para começar a compreender o verdadeiro impacto do dólar é saber como este afeta os preços internos”, diz Victorino. Por essa razão, ele elencou, abaixo, três formas:
Preços de produtos importados: a relação mais direta entre o dólar e a inflação é vista nos preços dos produtos importados. Uma desvalorização do real frente ao dólar torna os produtos importados mais caros, contribuindo para o aumento da inflação. Isso afeta não apenas produtos de consumo direto, mas também componentes e matérias-primas importadas usadas na produção nacional.
Custos de produção: muitas indústrias brasileiras dependem de insumos importados. Quando o dólar está alto, o custo desses insumos aumenta, elevando os custos de produção. As empresas frequentemente repassam esses aumentos aos consumidores, resultando em inflação de custos.
Expectativas inflacionárias: a cotação do dólar pode influenciar as expectativas dos agentes econômicos sobre a inflação futura. Se os mercados esperam que o real continue a se desvalorizar, empresas e consumidores antecipam aumentos de preços, o que pode acelerar a inflação atual por meio de um processo autorrealizável.
Segundo o professor, além disso, existem fatores de risco que podem agravar o aumento de preços internos, como por exemplo, a dependência de importações. O Brasil é um grande importador de produtos tecnológicos e petroquímicos, que são cruciais para diversas cadeias de valor. A flutuação do dólar impacta diretamente o preço desses produtos, reverberando por várias camadas da economia.
De acordo com o administrador de empresas, o segundo fator de risco é a dívida pública. “O serviço da dívida pública do país também é afetado pela cotação do dólar. Quando o real se desvaloriza, o custo em reais para honrar dívidas denominadas em dólares aumenta, podendo exigir ajustes fiscais que influenciam a política monetária e os índices de inflação”, explica.
Por fim, “temos justamente a política monetária, pois o Banco Central do Brasil pode intervir no mercado de câmbio para estabilizar o real ou ajustar a política monetária, elevando taxas de juros para conter pressões inflacionárias originadas de um real fraco. Essas ações têm efeitos colaterais significativos na economia, incluindo o custo de crédito e investimentos”, ressalta Victorino.
E conclui: “Apesar de muitas pessoas continuarem acreditando que a cotação do dólar é algo distante de nosso dia a dia, podemos ver que esta variável afeta, sim, diversos gatilhos da inflação do Brasil. Por esse motivo, em um mundo cada vez mais conectado, uma gestão eficiente da taxa de câmbio é essencial para manter a saúde econômica e promover o crescimento sustentável de um país”.
Fonte: Bnews
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