Por Cristiane Noberto
Após a sanção da lei que permite jogos online no Brasil, o setor registrou um aumento significativo de apostadores na modalidade, ultrapassando inclusive o número de investidores na Bolsa de Valores brasileira, a B3.
Uma pesquisa da Associação Brasileira das Entidades de Mercado (Anbima) mostrou que, em 2023, cerca de 22 milhões de brasileiros, o equivalente a 14% da população, participaram de apostas online, enquanto apenas 2% investiram na bolsa no mesmo período.
Especialistas apontam para uma mudança de comportamento dos brasileiros e debatem se esse fenômeno reflete uma tradição cultural arraigada ou se as pessoas estão vendo as apostas como uma forma de investimento, uma visão que tem sido desencorajada pelas plataformas.
Edson Lenzi, CEO da PayBrokers, empresa especializada em soluções de pagamentos para o segmento de iGaming e Loterias no Brasil, prevê um aumento no número de apostadores com o avanço da regulação do mercado no país.
“O principal objetivo do jogo é proporcionar entretenimento e diversão. Com maior segurança e confiança, especialmente nos pagamentos, mais pessoas se sentirão confortáveis em participar dessas atividades, o que contribui para o crescimento do mercado”, diz.
Ícaro Quinteiro, do Grupo Esportes da Sorte, atribui o aumento ao fácil acesso e à adaptação dos valores às possibilidades da maioria dos brasileiros, algo que contrasta com os altos valores necessários para investir na bolsa.
“A gente acredita que no mercado de apostas, até pelos valores serem extremamente voláteis na escolha do usuário, fica muito mais fácil de haver um investimento que se adeque à realidade da maioria dos brasileiros, enquanto qualquer investimento na bolsa de valores implica em cifras normalmente muito maiores do que a grande parte da sociedade tem condições de participar”, pontua.
Marcos Sabiá, da galera.bet, alerta que comparar volume de apostas com investimentos na bolsa pode induzir a equívocos sobre a natureza das apostas online. Ele destaca ainda que estas devem ser tratadas como entretenimento, não como investimento.
“Comparar o volume de apostas com o de aplicação na bolsa de valores induz ao entendimento incorreto de que apostas e jogos eletrônicos são formas de investimento. Esse entendimento deve ser veementemente combatido, pois apostas e jogos online são parte da indústria do entretenimento e devem ser assim tratados por empresas, consumidores e sociedade em geral”, alerta.
Ricardo Bianco Rosada, fundador da consultoria da brmkt.co, destaca os fatores que impulsionam as apostas, como a facilidade nos pagamentos e a acessibilidade dos jogos, enquanto critica a distância da bolsa de valores em relação à população comum.
Ele também prevê uma marca de 28 milhões de usuários em 2024.
“A facilidade e menor fricção nos métodos de pagamento, a simplificação de alguns jogos em iGaming com crash games e mini slots, e o ‘baixo’ ticket de entrada, são alguns dos pontos que aumentam a entrada de novos usuários. Já a Bolsa de Valores tenta há anos, e infelizmente em vão, trazer mais investidores para o mercado, apesar de investirem constantemente em educação, mas sem mudar a abordagem para conquistar mais clientes”, destaca.
Cristiano Maschio, da Qesh, observa o crescimento entre os apostadores mais jovens e destaca a busca tanto por diversão quanto por uma renda extra nas apostas esportivas.
“Vemos essa ascensão em pessoas entre os 28 e 36 anos representando a principal faixa etária entre aqueles que apostam. A prática tem sido muito aderida entre os que somente querem dar mais emoção às partidas de futebol e acabam fazendo aquela fezinha, com baixos valores. Mas, também observam-se casos em que há uma busca, de fato, em gerar uma renda extra extra por meio das apostas esportivas”, diz.
Fonte: CNN Brasil
Foto: Getty Images